Parece-me uma obviedade dizer que o próximo dia 8, quando se comemora em todo o mundo o Dia Internacional da Mulher, assinala inúmeras conquistas e também renovação da luta pela igualdade de gênero. Idem registrar que essa luta, de caráter político, ideológico e cultural, se projeta em longo curso e tem caráter estratégico e decisivo no processo civilizatório das nações. Obviedades que nunca é demais reafirmar.
Do mesmo modo, vale comentar sobre o sentimento ainda largamente predominante entre nós outros que formamos a outra metade da população do planeta, os do gênero masculino, de verdadeiro incômodo, insegurança e receio diante do avanço da luta de libertação das mulheres. Porque no cotidiano de nossas vidas que mora a dificuldade.
O cara se vê senhor da situação até o dia em que a companheira é aprovada num concurso, ganha emprego fixo e satisfatoriamente remunerado. Muda a relação, materialmente passa a ser entre iguais. Tome tempo para se acostumar, mais tempo ainda para reconhecer que o poder agora é dividido.
Na militância política, mesmo em círculos à esquerda e politicamente comprometidos com a causa emancipacionista, enquanto o sujeito é líder ou dirigente, reconhecido como tal e tem na companheira apenas uma coadjuvante, o barco navega em plácidas águas. Mas eis que ela evolui, encontra seu próprio nicho de atuação, se destaca e alcança identidade própria: haja serenidade, paciência e compreensão até que a adaptação se dê – e são inúmeros os casos em que o amor se esvai na esteira da igualdade conquistada.
Talvez seja na intimidade da relação sexual, expressão concentrada do amor, da liberdade e da solidariedade humana, que a resistência do macho se revele mais intransigente e inexpugnável, mesmo quando assume formas sutis e dissimuladas. A quem cabe o comando na busca do êxtase? Juro que faria aqui, se fosse o caso, uma alentada lista de camaradas que sequer admitem discutir o assunto, ciosos da primazia secular que desejam preservar, mesmo que não tenham a coragem de admitir claramente.
Por essa e muitas outras é que além de proclamar os avanços que conquistamos em nossa luta – no Brasil, nos últimos trinta anos – , e de reafirmar bandeiras de luta, há que assumirmos – mulheres e homens que se batem pela igualdade de gênero – o compromisso de travarmos a luta de ideias, aprofundar concepções, questionar atitudes em cada gesto e em cada fato do dia a dia.
Mais mulheres no poder político, sim; está uma grande e abrangente bandeira que devemos empunhar. Superar das barreiras ideológicas e culturais também – desde que todos nos esforcemos na mesma direção, cúmplices que devemos ser em todas as situações.
* Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB