Uma frase ainda perturba o sono dos profissionais de Enfermagem do serviço público municipal de Salvador. “As enfermeiras acham que ganham pouco? Porque é que não foram cursar Medicina?” Isto disto por qualquer indivíduo já seria uma estupidez. Pior quando proferido por um representante da Prefeitura de nossa cidade.
A declaração recheada de desrespeito à categoria é uma prova singular do coronelismo escravocrata desta gestão malvada e que não valoriza trabalhadores e trabalhadoras. Não consideramos ideal atribuir tal infelicidade apenas a um secretário, pois estamos certos, de que essa postura reflete o pensamento e a visão de um grupo político acostumado a perversidades e degradações até mesmo, daqueles que orbitam em torno dele.
Talvez uma breve explanação sobre a importância do profissional de Enfermagem poderia fazer com que o representante da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e o seu “superior” entendessem a necessidade de valorizar esses trabalhadores pela sua função social e não apenas por uma titulação. A postura equivocada de privilegiar uma categoria em detrimento às outras que compõem uma equipe médica é o exemplo observado na prática no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), onde gratificações e incentivos são concedidos apenas aos médicos, enquanto os demais integrantes da unidades socorristas garantem o nobre nome do serviço sem perceber nenhum benefício adicional.
O profissional de Enfermagem, quer seja na condição de Enfermeiro, Técnico ou Auxiliar é responsável pela manutenção e preservação da vida de um paciente. A garantia de bem-estar e acompanhamento/evolução do quadro clínico tem a presença dedicada desse trabalhador ou trabalhadora ao lado do doente e de sua família. Apesar da missão abnegada, o trabalho é feito com autonomia oriunda de conhecimentos técnicos obtidos em certificações de graduações inerentes ao exercício pretendido.
Essas abordagens consistem em poder conhecer o paciente como indivíduo, oferecendo-lhe cuidados técnicos e procedimentos seguros de forma sistematizada, mas de maneira individualizada, integral e humanizada. O profissional de Enfermagem é uma pessoa que traz consigo, condutas morais, éticas, religiosas e que escolheu esta profissão por vocação, por entender a sua missão social, quando muitos não lembram mais de amar ao próximo.
Cuidar é ato de quem gosta de algo ou alguém. O profissional de Enfermagem faz essa labor com carinho e empenho, sempre na perspectiva de ter como retribuição, a alta médica do seu paciente. Ver aquela pessoa que chegou fragilizada em uma maca ou cadeiras de rodas, agora seguindo para o aconchego de seu lar com seus familiares é um presente para quem dedicou seu tempo a acompanhar e garantir cuidados necessários para aquele desfecho. Quantas vezes, o enfermeiro, técnico ou auxiliar foi a única companhia para aquela pessoa?
Tudo isso vem por conta de anos de estudos, onde o profissional aprende muito mais que aplicar injeções, como pensam alguns equivocados. Conhecer fisiologia, anatomia, bioquímica, farmacologia, administração, ética e outras disciplinas fundamentais para a profissão é necessário para a formação. Esse currículo multidisciplinar possibilita garantias para os sistemas de saúde coletiva, quando esses trabalhadores e trabalhadoras ingressam no mercado de trabalho. No home care, a confiança e ambientação na residência do paciente é um novo modelo que exige outros conhecimentos do enfermeiro.
Falaríamos de diversas pós-graduações, extensões e pesquisas envolvendo profissionais de Enfermagem. Poderíamos versar sobre diversas atribuições em outras equipes de trabalho, além disso, as especializações empenhadas para adquirir mais conhecimentos para o cuidar. Dizemos apenas da beleza da profissão e do valor social deste trabalho, na proteção da sociedade.
No nosso sindicato, nós temos a grata satisfação de ter diretores que são profissionais de Enfermagem. Essa condição aumenta nossa dedicação e empenho na defesa da categoria, assim como fazemos com as demais profissões do serviço público municipal. A marca forte do Sindseps reconhece os méritos devidos aos trabalhadores e trabalhadores, na certeza de que nossa missão é sempre atender aos chamados para batalhar em nome daqueles que ofertam confiança em nosso trabalho.
Repudiamos qualquer forma de discriminação com esta profissão, na oportunidade que reafirmamos nosso respeito e admiração a todos os profissionais da Enfermagem. Mostraremos aos injustos e ignorantes, que esse labor divino não é necessário apenas quando seus corpos precisam de atendimento, e sim, quando toda e qualquer pessoa necessita de cuidados, independente de sua raça, credo religioso, orientação sexual, posição social e política ou condição financeira. O cuidar não escolhe rosto ou corpo, pois o amor é ferramenta desta profissão. A canção já diz que “quando a gente ama é claro que a gente cuida”.
Everaldo Braga e Josué Santana são profissionais de Enfermagem e atualmente são diretores do Sindseps