Censurar ou adotar posturas imperativas é uma característica de regimes ditatoriais. Tentar impor autoridade contra pessoas ou grupos nos faz relembrar a postura anti-democrática dos tempos de chumbo no Brasil. A Bahia também foi palco desse horror político que apenas queria o endeusamento de um líder e a perseguição a quem ousasse enfrentar sua vontade egocêntrica.
Esse período obscuro da história parece querer voltar com uma nova roupagem. A postura arrogante e tirana agora vem travestida em “orientações” intimidatórias, que tem a clara intenção de calar a voz daqueles que se levantam contra a falta de dignidade no serviço público municipal de Salvador.
Um fato recente mostra a forma prepotente da gestão municipal de lidar com críticas ao seu comportamento. No último dia 10 de outubro seriam realizados atos públicos para lembrar o Dia Mundial da Saúde Mental. O evento que aconteceria na Praça Municipal teria a participação de usuários e profissionais dos serviços de saúde mental da capital baiana. Imposições e ameaças explícitas feitas durante uma reunião com a coordenação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) abortaram a realização da ação.
O posicionamento da Coordenação de Saúde Mental, orientada pela alta gestão, proibia uso de faixas, cartazes ou qualquer outro conteúdo que criticasse o prefeito da cidade ou seu auxiliar na pasta da saúde. Havia ainda a exigência de mudança de local para o evento, oferecendo a Praça das Mãos (antigo Mercado do Ouro – Comércio) como opção. A pena para uma possível transgressão das regras impostas seria a perseguição e o assédio aos trabalhadores que se negassem a obedecê-las.
Um documento assinado pelo Coletivo de Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Salvador repudia a postura da gestão da SMS e se compromete a continuar a luta por melhorias nos serviços de saúde mental na capital baiana. (Clique aqui e leia)
Para a direção do Sindseps, a forma com que pacientes e servidores foram tratados reflete a face perversa do grupo político que está no poder em Salvador. O diretor Everaldo Braga falou sobre essa situação e criticou a postura dos gestores da SMS. “Tenho visto a luta incessante dos profissionais para manter os serviços de saúde mental funcionando. Sou testemunha das dificuldades enfrentadas diariamente. Furtos nas unidades, assaltos aos trabalhadores, agressões e ameças de estupro contra as trabalhadoras, estruturas físicas precárias, falta de equipamentos e necessidade de ampliação de pessoal. Tudo isso é superado para oferecer um mínimo de dignidade aos usuários. A gestão municipal não cumpre seu papel e ainda oferece perseguição para quem trabalha de maneira correta. Essa postura é ridícula e merecerá nossa ação incisiva para responsabilizar quem agiu dessa forma estúpida para preservar um prefeito que não tem dedicado atenção à saúde mental”, afirmou Braga.
“Apoiaremos esta e outras iniciativas em favor da saúde mental. Nossa defesa é pela cidadania e isso inclui trabalhadores e usuários. Seremos combativos para mostrar a situação dos CAPS’s em Salvador. Vamos mobilizar profissionais, pacientes, pais e a comunidade para lutar por este serviço importante para o equilíbrio social. Uma cidade que não cuida de sua saúde mental não terá dignidade, respeito e inclusão social”, completou.